Coisas Simples
Erradamente continuo a ouvir dizer de forma repetida que os professores têm três meses de férias, visto os alunos que vão realizar provas de aferição e exames já terem terminado as suas atividades letivas e estarem em casa. Contudo, ainda não de férias, mas supostamente dedicados ao estudo para prestarem provas. Uns dizem-no por ignorância, outros com ironia, conhecedores da vida dos professores, outros espero que não seja pela simples maledicência.
Cada ano letivo, e o seu final, torna-se mais difícil, com mais e mais exigências. Há alunos ainda com aulas, há reuniões de avaliação a decorrerem e, para quem é diretor de turma, burocracia, a preparação da reunião de avaliação e a reunião final com os encarregados de educação, e mais burocracia…Depois hão de vir as vigilâncias, coadjuvâncias e correções de provas e exames que, no meu caso, este ano, tive a sorte de ser premiada com correções das provas de alunos em simultâneo com estas tarefas e outras inerentes a clubes, como jornais e outros projetos, como um texto dramático coletivo interciclos – “Os Oceanos Somos Nós!”, texto de defesa e intervenção ecológica, no âmbito do Clube Europeu, de que também integro a equipa, e do projeto Gandhi – que subiu à cena por estes dias no Auditório Elvino Pereira e que não poderia deixar aqui de referir, para poder, mais uma vez, reiterar aos meus alunos envolvidos que estiveram deslumbrantes e que são pessoas maravilhosas. Uma encenação que integrou a semana de atividades – “Escola Aberta” – do meu Agrupamento de escolas.
Partirão deixando saudade. Coisas simples. E não são estas as que importam?
Contudo, há algo simples e maravilhoso nos finais de ano letivo. Dos alunos que ficam despedimo-nos com um até breve, pois as férias passarão sem darmos por isso. Habitualmente, de três em três anos, ou de seis em seis anos, dependendo, se apanho os alunos no 7º ano ou no 10º ano e, se fazem comigo um ciclo de três anos ou um percurso de dois ciclos, com seis anos, para os alunos que partem com o diploma de 12º ano e se vão candidatar a um curso superior, ou simplesmente entrar no mundo do trabalho, despedimo-nos já com saudade. Já são mais que meus alunos, sem desmérito dos pais e nem querendo sequer comparar, mas sem fuga possível, associando os dois papéis, é como se fossem já um pouco seres do nosso ser…
Estes que partem vão seguir o seu caminho, progredir, “asa que se elançou”, como disse o poeta Mário de Sá-Carneiro, e voou.
Pode ser que nos cruzemos por aí, inesperadamente, sei que terei orgulho em vós. Já o tenho!
Também eu vou ter amigos que vão fazer “o pino a voar”!
Vivam e sejam muito felizes!





Texto adaptado da crónica publicada na revista mensal regional Abarca de junho 2022 – texto com supressões
A professora Anabela Ferreira